O apoliticismo humanista e bem pensante é o vazio de participação cidadã de nossa sociedade. O apoliticismo é uma doença intrínseca à democracia e à cidadania. A conquista da democracia formal conduz inelutavelmente à apatia e ao descaso,       ao desinteresse de participação política.

A abstenção de participação nas votações,   a generalização da crítica e a descrença na política e nos políticos, a mediocrização da ação política profissional, contribui cada vez mais para uma pior qualidade moral e intelectual da representação política eleita.

O apoliticismo é o exercício da cidadania pelo abandono da perspectiva de que se possam equacionar questões de interesse público ou do bem comum pela via das instâncias de representação eleita, ou seja, pelas instâncias inerentes à democracia representativa cidadã.

O remédio para o apoliticismo será sempre encontrado na própria democracia. Cura-se a doença do apoliticismo com maior democracia, com instituições que funcionem e se aprimorem com debate e transparência, com a convivência com o contraditório e a escolha pacífica entre diferentes perspectivas e alternativas, com a participação e a contribuição dos distintos atores da sociedade.

Impregnado por essa cultura de alienação, o administrador também se afasta cada vez mais no cotidiano de seu posto de trabalho de seu compromisso de agente de transformação social, de intervenção nas condições objetivas em que se efetivam as relações de moral/coesão, normas/padrões e objetivos/metas na vida laboral a fim de conduzir à organização a uma realidade mais democrática e cidadã. Vivemos na Idade Média das relações de trabalho pensando já termos atingido o estágio evolutivo do humanismo solidário no mundo das organizações.

As organizações utilizam tecnologias na velocidade dos foguetes e são administradas ainda como se vivêssemos à época do carro de boi.

A democracia cidadã como uma realidade nas organizações

Cidadania é o exercício dos direitos e dos deveres civis e políticos dentro de um Estado. Pressupõe todas as implicações decorrentes da vida coletiva em sociedade. Cidadania é o direito a ter direitos e o dever de cumprir obrigações dentro de uma nação politicamente organizada em Estado.

Não há democracia cidadã sem contradição e sem resolução de conflitos pela via da negociação pacífica.

A democracia é a convivência com a divergência e o contraditório.  Não há cidadania com a hegemonia do pensamento único. Toda monotemática é perigosa. O monotema “politicamente correto” implica substanciais riscos à estabilidade das instituições democráticas numa sociedade.

A Queda do Muro de Berlim e a consequente desconstrução do bloco soviético retiraram a alternativa comunista ao capitalismo, ou, se preferir, à sociedade de mercado.

O que significa Bin Laden para o jovem ocidental? Claramente uma opção moral. O Islamismo fanatizado não condena a propriedade privada, o controle dos meios de produção, a sociedade de mercado, a exploração do trabalho assalariado, a discriminação contra as minorias étnicas, sexuais, raciais e religiosas. Pelo contrário, o mais das vezes os agrava dramaticamente.

Bin Laden não é uma alternativa social, econômica ou política; é uma alternativa moral para jovens fanatizados pela opção religiosa, que quer fazer as vezes da ação política. Ele simboliza outros valores, ou seja, outra moral ou até outra civilização.

Passar de Lênin e Stalin para Bin Laden não é trocar de adversário. É passar de uma questão para outra. É passar da questão política (contra ou a favor da sociedade de mercado, por exemplo) para a questão moral ou civilizatória, contrapondo os valores do Ocidente laico e liberal, democrático e cidadão, aos da teocracia religiosa.

A sociedade de mercado não precisa de sentido para funcionar. Mas os indivíduos certamente. As civilizações também.

Qual o sentido para a vida? Quais são os valores existenciais predominantes na sociedade? Temos que ter sentido e, portanto, justificativa para a nossa existência.

Antes, a contradição se dava contra uma perspectiva de negação representada pelo bloco comunista. Na sua ausência, a sociedade há que buscar uma nova alternativa. Precisa encontrá-la em si mesma, entre uma opção de valores, éticas, morais, institucionais-legais, político-jurídicas.

Esta busca é a fonte e a origem da força do “politicamente correto” dominante em nossa sociedade. A essência de todas as suas deformações.

A democracia cidadã em nosso país não vai evoluir efetivamente enquanto se persistir no equívoco de se circunscrever questões fundamentais de nosso tempo como as dos direitos humanos, da proteção do meio ambiente, da sustentabilidade etc., como se fossem exclusivamente questões de natureza moral. São também.

No cotidiano da vida em sociedade perpassamos indistintamente por ordens de conduta que nos levam a atitudes e a comportamentos. A democracia em nosso país precisa tratar harmonicamente essas cinco ordens – tecnocientífica ou econômica, institucional ou jurídica, moral, ética e espiritual – porque são elas que formam as doutrinas e as ideologias, as teorias e as práticas que vicejam no mundo corporativo, nas relações de trabalho, nas circunstâncias da vida empresarial e no universo da sociedade.

A questão moral do “politicamente correto” não é por si só suficiente, portanto. Não basta a si própria. Precisa das demais ordens para se sustentar e avançar.

Adm. Wagner Siqueira
CRA-RJ nº 01-02903-7
Presidente