O professor Paulo Emílio Matos Martins, membro do Núcleo de Estudos de Administração Brasileira da Universidade Federal Fluminense, em Niterói – RJ, foi um dos vencedores do Prêmio Guerreiro Ramos de Gestão Pública, promovido pelo Conselho Federal de Administração (CFA), em 8º edição.

O resultado do concurso foi divulgado no mês de março e Martins alcançou o terceiro lugar na modalidade Pesquisador Guerreiro Ramos, com o trabalho “Alberto Guerreiro Ramos: Um homem parentético?”.

Partindo dessa pergunta/tema, Martins buscou ‘responder a essa pergunta e argumento, utilizando técnicas de análise de conteúdo, que as características desse ator social, na visão guerreireana, premonitoriamente, já se anunciavam em sua primeira obra publicada “O Drama de ser Dois” (1937) – única no gênero poético, especialmente em sua dedicatória: “a todos os homens que se procuram”’.

O professor se disse honrado em ter conquistado a premiação por meio das pesquisas realizadas a respeito de uma pessoa tão exemplar quanto Guerreiro Ramos. Entretanto ele destacou que o grande vencedor é o sistema CFA/CRAs, por fomentar grandes produções sobre a Administração.

“O grande premiado dessa empreitada é mesmo o Conselho Federal de Administração (CFA) que, ao criar o Prêmio Guerreiro Ramos de Gestão Pública, revela a sensibilidade e o cuidado de um verdadeiro conselho profissional, ao estimular o estudo de questões teóricas da arte que professa e regula, ao homenagear seus grandes pensadores e ao contribuir, de fato, para uma melhor formação dos seus profissionais”, declarou Martins.

Esta edição do Prêmio Guerreiro Ramos de Gestão Pública contou com as modalidades Gestor Público, Pesquisador Guerreiro Ramos, Jovem Pesquisador Guerreiro Ramos e Inovação na Administração Pública.

Confira o bate-papo que o CRA-RJ teve com o professor Paulo Emílio Matos Martins.

CRA-RJ: Por que “Alberto Guerreiro Ramos: Um homem parentético”?

Paulo Emílio Matos Martins: No meu escrito Guerreiro Ramos: Um Homem Parentético?, que o CFA acaba de distinguir com a sua premiação na oitava edição do Prêmio Guerreiro Ramos de Gestão Pública (modalidade pesquisador), tento responder a essa pergunta e argumento, utilizando técnicas de análise de conteúdo, que as características desse ator social, na visão guerreireana, premonitoriamente,  já se anunciavam em sua primeira obra publicada O Drama de ser Dois (1937) – única no gênero poético -, especialmente em sua dedicatória: “a todos os homens que se procuram”.

CRA-RJ: Quando e como surgiu o interesse pela vida de Guerreiro Ramos?

Paulo Emílio Matos Martins: Alberto Guerreiro Ramos (1915-1982) vivia auto exilado nos Estados Unidos e lecionava na Universidade do Sul da Califórnia quando iniciei a leitura de sua obra (1982), como mestrando de Administração Pública na, então, EBAP/FGV. Assim, não tive o privilégio de ser seu aluno ou mesmo de conhecê-lo pessoalmente.

Com a leitura de A Redução Sociológica (1958) despertou-se o meu interesse pelo pensamento de seu autor, que prometia responder a uma inquietante questão: Por que estudamos e – mais grave ainda – ensinamos a Análise Administrativa (que busca interpretar e explicar um fenômeno social) com base no paradigma universalista das ciências da natureza, nomeadamente da Física, reduzindo assim a complexidade desse objeto de estudo à condição de fato apolítico, não simbólico e anistórico?

À leitura dessa obra canônica da Sociologia seguiram-se as de: A Nova Ciência das Organizações: Uma Reconceituação da Riqueza das Nações (1981) – então recém-publicada; seu livro Mito e Verdade da Revolução Brasileira (1963) – onde o conceito guerreireano de ‘homem parentético’ foi proposto; Administração e Contexto Brasileiro: Esboço de uma Teoria Geral da Administração (1966) e tantas outras de sua vasta e fecunda produção acadêmica. Elas vieram a inspirar a criação do Núcleo de Estudos de Administração Brasileira (ABRAS), na Universidade Federal Fluminense (UFF), em 1988, que este ano celebra o seu trigésimo aniversário de atividades ininterruptas de investigação acadêmica na área e que tem Guerreiro Ramos como seu patrono.

CRA-RJ: Quais principais características o senhor destaca em Guerreiro Ramos?

Paulo Emílio Matos Martins: Como só o conheço como pensador, são para mim destacáveis as suas raras qualidades de um rebelde fazedor de teoria (na significação transformadora desse referente), permanentemente inquieto com os problemas de sua realidade, com sólida formação teórica e conhecimento dos clássicos das Ciências Sociais – lidos no original, crítico e criativo. Dito de outro modo, de um ‘homem parentético’.

CRA-RJ: Na sua visão, qual a relevância de Guerreiros Ramos na Administração e na sociedade?

Paulo Emílio Matos Martins: Na Administração, Guerreiro Ramos inicia – muito antes dos sempre lembrados Alvesson (1985), Reed (1988, 1997), Parker (1992, 1995, 2000), Willmott (1993), Rowlinson & Hassard (2011) etc. – os Estudos Organizacionais Críticos ou Critical Management Studies, como ficariam consagrados pela literatura anglo-saxônica contemporânea, e a utilização do pensamento social brasileiro como referência teórica na análise administrativa.

Na sociedade hodierna esses estudos críticos são de vital importância para a melhor compreensão e teorização mais complexa do fato social que eu denomino ‘espaço-dinâmica organizacional’ em uma sociedade em vertiginosa transformação técnica, dominada por uma cultura consumista, em meio a uma gigantesca desigualdade global e aos desafios da sustentabilidade (em todos os sentidos do termo).

CRA-RJ: Por que as novas gerações não podem esquecer Guerreiros Ramos e suas contribuições à sociedade?

Paulo Emílio Matos Martins: Na realidade o chamado ‘pensamento único’, com sua pobreza de inspiração mercadológica – antevista por Guerreiro Ramos em sua A Nova Ciência – disciplina a (des)formação das novas gerações e apaga todo vestígio do pensamento crítico (de qualquer escola ou corrente), para consumar a mais efetiva circulação do conhecimento-mercadoria.

No universo dos desafios antes explicitados é necessário e urgente não “esquecer”, conhecer e discutir as ideias de pensadores da lavra de Guerreiro Ramos.