Por Josué Amador |
A pandemia de coronavírus (Covid-19) tirou o home-office da classe de uma alternativa laboral e o elevou a principal forma de desempenhar certas funções. Toda essa reviravolta global trouxe desafios para diversos setores, senão todos, e entre as áreas mais afetadas está o setor de Recursos Humanos, pois o desafio é gerenciar quem não se vê e não se pode controlar a produtividade com presença física.
Os profissionais de Recursos Humanos precisarão inovar ainda mais para se mostrarem necessários em tempos onde cada um precisa dar conta de si mesmo e de seus resultados, em isolamento social. O coordenador da Comissão Especial de RH do CRA-RJ, Adm. Reinaldo Faissal, destaca que este é um momento ímpar no que diz respeito ao trabalho isolado e que todo esse cenário traz o desafio de os gestores de pessoas compreenderem qual movimento está acontecendo no mundo para as melhores tomadas de decisões.
“Isso sim é novo para toda geração que hoje trabalha vinculada a alguma instituição ou mesmo de forma autônoma. Nem as duas grandes guerras, nem as menores e mais frequentes da nossa época, exigiram tanto isolamento social e paralisação de atividades. O desafio estará em conhecer o máximo das informações sobre as experiências vivenciadas para, a partir delas, desenvolver métodos, processos, técnicas e teorias que fundamentem a Administração de Pessoas, com foco na sustentabilidade organizacional, ora ameaçada em vários seguimentos”, disse.
Faissal ainda destacou as principais diferenças de impacto nas empresas de micro a grande porte. Para ele, ‘empresas menores devem apresentar maior flexibilidade de adaptação e geração de ideias para dar continuidade às atividades’, por outro lado, apesar de serem mais burocráticas em seus processos, as grandes corporações têm mais recursos financeiros e uma maior estabilidade para gerenciar seus colaboradores e evitar demissões, o que também não é garantia na atual situação. Independentemente do porte da organização, o Administrador explicou que será preciso flexibilidade e otimismo para se recuperar no pós-crise.
“Como [se preparar para o pós-crise] ainda não sei, mas com que certamente posso contribuir ─ flexibilidade e otimismo. E trago essas duas condições tendo como base o que propôs Daniel Goleman no best seller ‘Inteligência Emocional’. As mudanças exigirão condutas, posturas, práticas e pensamentos muito mais flexíveis, capazes de conduzir as instituições. E tudo isso deve ser visto com bons olhos e pró-atividade, driblando a resistência natural à mudança e com a esperança do alcance de melhores condições para obtenção de resultados favoráveis, tanto para as instituições em si, como para as pessoas que nelas ou para elas contribuem e lhe dão vida”, explicou Faissal.
Confira abaixo algumas questões que foram consideradas pelo Adm. Reinaldo Faissal, coordenador da Comissão Especial de Recursos Humanos, e suas respostas completas.
CRA-RJ: O que muda no modelo de gestão de Pessoas em tempo de pandemia, quarentena e home-office compulsório? Quais os maiores desafios?
Adm. Reinaldo Faissal: O que muda, não sei, mas sabemos que mudará e será um marco no desenvolvimento das práticas da Gestão de Pessoas. Apesar do home-office não ser uma novidade, no momento tornou-se compulsório e geral. E é preciso entender o peso que isso significa, pois quando digo geral quero dizer, sem nenhum exagero e no exato sentido literal da expressão, dizer que incide “no mundo todo”.
Isso sim é novo para toda a geração que hoje trabalha vinculada a alguma instituição ou mesmo de forma autônoma. Nem as duas grandes guerras, nem as menores e mais frequentes da nossa época, exigiram tanto isolamento social e paralisação de atividades. O desafio estará em conhecer o máximo das informações sobre as experiências vivenciadas para, a partir delas, desenvolver métodos, processos, técnicas e teorias que fundamentem a Administração de Pessoas, com foco na sustentabilidade organizacional, ora ameaçada em vários seguimentos.
Sabemos que o planejamento é fundamental para qualquer atividade, mas certamente, a partir dessa crise que estamos passando, mais atenção será dada à possibilidade de paralisações globais e isolamento social, em nível mundial. Isso será uma necessidade institucional e pessoal, abrangendo não só as organizações, mas também cada indivíduo.
CRA-RJ: Quais as principais diferenças na gestão de pessoas de empresas de micro, pequeno, médio e grande porte, nesse tempo de mudanças no mercado em função do coronavírus?
Adm. Reinaldo Faissal: Ouso dizer que as empresas menores devem apresentar maior flexibilidade de adaptação e geração de ideias para dar continuidade às atividades. Empresas maiores tendem a ser mais burocráticas e isso, em alguns casos, torna o processo mais lento, embora mais controlável. Por outro lado, o Fluxo de Caixa ou o Capital de Giro, pode afetar em muito a mobilidade e sustentabilidade dessas empresas. Nesse aspecto, as maiores levam vantagem, ainda que isso não seja garantia de total sustentabilidade.
E esses itens terão forte impacto na gestão de pessoas, pois quanto maior forem, menor será incidência de demissões e redução de quadro de pessoal. No momento atual, ainda temos que aguardar os efeitos das medidas governamentais já adotadas e as que ainda estão por vir.
CRA-RJ: Em tempos de home-office compulsório nas empresas, como o setor de RH deve agir para gerir os colaboradores de forma eficiente e produtiva?
Adm. Reinaldo Faissal: Esse é um dos desafios, que garanto ter ainda muito poucas ações aplicadas na área de Recursos Humanos. Aqui cabe lembrar que isso não é de todo uma novidade, visto que em 1996 ao publicar o livro ‘O Líder do Futuro’, o autor Charles Handy já nos trazia a reflexão de “como administrar quando não se enxergam as pessoas”.
Nesse contexto, será necessário um conhecimento bem mais amplo sobre as pessoas que trabalham remotamente para as organizações. A empatia deverá ser privilegiada, pois reconhecer os valores, as atitudes, o sentimento das pessoas envolvidas será crucial para as interações formais e informais com essas pessoas, no sentido de extrair o máximo de sua produtividade individual e coletiva, aqui entendida não apenas em seu sentido menor que é o econômico, mas sim no sentido amplo da vida humana que busca incessantemente o reconhecimento individual, como energia indispensável à autoestima.
CRA-RJ: Há rumores de necessidade de demissões em massa devido à paralisação de algumas empresas. Há outras alternativas para manter os funcionários empregados? Qual seria o papel do setor de RH no processo de solucionar este tipo de demanda?
Adm. Reinaldo Faissal: Certamente que alternativas existem, ainda que agora ainda não tenham sido pensadas ou aplicadas. A prática mais comum é dada pela relação “menos caixa = menos pessoas”. Entretanto, acredito que os bons gestores, que certamente selecionaram bem os profissionais que formam suas equipes, sabem o quanto essas pessoas valem e contribuem para a sustentabilidade do seu negócio. Eles encontrarão, em consenso com esses profissionais, por intermédio do trabalho em equipe, a alternativa mais adequada à necessidade e de acordo com suas possibilidades.
Ouso mais uma vez afirmar que algumas dessas alternativas poderão até necessitar de alterações na legislação vigente, seja de caráter transitório ou permanente. O destino pode estar longe, mas isso deve nos animar a ser os autores do caminho para alcançá-lo. O setor de RH deve atuar como mediador nesse processo, contribuindo com seu conhecimento sobre as expectativas, demandas e interesses das pessoas, como parceiro estratégico dos demais gestores no processo de tomada de decisão.
CRA-RJ: Como as empresas devem se preparar para o pós-crise, sob o ponto de vista da Gestão de Pessoas?
Adm. Reinaldo Faissal: “Como” ainda não sei, mas “com que” certamente posso contribuir ─ flexibilidade e otimismo. E trago essas duas condições tendo como base o que propôs Daniel Goleman no best seller ‘Inteligência Emocional’. As mudanças exigirão condutas, posturas, práticas e pensamentos muito mais flexíveis, capazes de conduzir as instituições. E tudo isso deve ser visto com bons olhos e pró-atividade, driblando a resistência natural à mudança e com a esperança do alcance de melhores condições para obtenção de resultados favoráveis, tanto para as instituições em si, como para as pessoas que nelas ou para elas contribuem e lhe dão vida.