O 31° Encontro de Professores e Coordenadores de Cursos de Administração (EPROCAD) foi marcado por reflexões sobre o mercado de trabalho e a importância das novas Diretrizes Curriculares Nacionais do Curso de Graduação em Administração. Além disso, houve a entrega da mais alta honraria da profissão: as medalhas Belmiro Siqueira. A conferência aconteceu, de forma híbrida, no dia 13 de julho no auditório Gilda Nunes.
Durante a abertura, o presidente do CRA-RJ, Adm. Leocir Dal Pai, falou da felicidade de participar do EPROCAD, um evento mais antigo do que sua vida acadêmica, que iniciou no ano de 1992. “É uma satisfação estar entre professores. Continuo professor e atuei como coordenador de cursos por 23 anos. Por isso, estar com vocês nesse evento é uma alegria muito grande”.
– Nosso tema é muito próprio e interessante. Sou avaliador do MEC e sei o quanto isso importa para as instituições, para coordenadores e professores – ressalta.
O presidente do Conselho relembrou sobre o período ainda conturbado da sociedade por conta das consequências da pandemia. “Vivemos num momento de ruptura. Nós não temos a certeza de como será o futuro no mundo pós-pandemia. Será um desafio para todos sobre como ministrar, gerir e assistir aula. As novas diretrizes curriculares surgem para auxiliar nesse sentido”.
O ensino visando o futuro
Durante a conferência, os palestrantes destacaram diversos pontos sobre as transformações significativas na sociedade e no ambiente acadêmico, resultantes da pós-pandemia. O professor Edson Kenji Kondo, da Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Administração (ANGRAD), comentou sobre as crescentes modificações em todos os aspectos na área da administração, ressaltando alguns fatos que impactaram o Brasil e o mundo, como o surgimento de novos modelos de negócios, as startups e os problemas econômicos gerados pela guerra.
Para ele, tudo isso provocou uma grande alteração na maneira de organizar as empresas como também o modo de ensinar administração. “Não há como continuar ensinando essa ciência da mesma maneira como antes. Por exemplo, a liderança piramidal do passado mudou. Hoje, as organizações buscam horizontalizar, criando núcleos descentralizados”.
Segundo Kondo, as novas DCNs nascem como um guia para que os cursos de administração de todo o país possam se reinventar e consigam ser redesenhados para o momento atual. “Dessa forma, o curso será mais efetivo para os profissionais da administração do presente e do futuro. Estamos fazendo DCNs que sejam efetivas para os cursos nas próximas décadas”.
Importância da regionalização
Já Antonio Freitas, Ex-Presidente da Câmara de Educação Superior do Conselho Nacional de Educação (CES/CNE), destacou os desafios do Brasil por ser um país com dimensões continentais e a necessidade de um ensino mais regionalizado.
– Imagine você ter o mesmo programa de administração e achar que vai atender o cidadão que está no Amazonas e no Rio Grande do Sul ao mesmo tempo. Isso não funciona para nenhuma área – exemplifica.
Freitas lembra que a DCN é uma referência, não um currículo mínimo obrigatório. Ele comentou sobre a importância de ensinar em sala de aula conteúdo que tenha utilidade para a pequena e média empresa, além de ajudar o egresso a se manter relevante no mercado de trabalho.
Ele reforçou ainda a necessidade de adaptar o aprendizado nas faculdades com a realidade regional. “É preciso aprimorar a oferta do ensino, preparando o profissional da administração para demandas do futuro, respeitando as diversidades regionais do país”.
Segundo Freitas, os professores, ao receberem as orientações gerais, devem elaborar o PPC em função do perfil do aluno que desejam formar, sem entrar em conflito com as diretrizes curriculares.
– Por exemplo, se uma escola busca se tornar referência no curso de gestão esportiva. Os professores desenham um PPC do curso, sem “ofender” as DCNs, que são muito abertas, para formar gestores esportivos – comenta.
Ele destacou também a necessidade da interdisciplinaridade em todos os cursos. “Imagine, dentro do curso de finanças e não discutir a ética? Ou um curso de análises de investimento e não tratar da sustentabilidade e meio ambiente? Como você vai montar uma fábrica, uma unidade de produção, poluindo a baía de Guanabara?”, reflete Freitas.
Antonio ressaltou também a importância de eleger algumas disciplinas como tópicos especiais para oxigenar o curso. “Na medida que o mundo está mudando, pode-se aproveitar esses tópicos especiais para introduzir conhecimentos novos”.
– Por exemplo, no caso da gestão de criptomoedas. Apesar desse assunto não estar em nenhum currículo, o tema está presente na vida de muitas pessoas e pode impactar muito o mercado de trabalho no futuro, produzindo novas demandas. Se essa disciplina fizer um grande sucesso como tópico especial, pode entrar na grade do curso depois – elucida.
Freitas comenta ainda que o curso de administração carece de uma grande interação com as demandas do mercado e as necessidades das empresas. “Deve-se transformar as aulas em algo mais lúdico e coletivo, para que o aluno possa aprender fazendo”.
Desempenho acadêmico
Na palestra seguinte, Adm. Luiz Cezar Vasques, consultor independente, falou sobre a gestão do processo de formação de administradores e a avaliação do desempenho acadêmico. Segundo ele, uma modificação muito importante da nova DCN foi promover a relação entre a prática e a teoria. “Antes, as DCNs eram muito focadas em conteúdo. A nova tenta mostrar que esse processo é muito importante, inclusive em relação à metodologia de ensino”.
Para Vasques, o conhecimento adquirido na faculdade precisa sempre gerar resultados significativos para a sociedade por meio do egresso. “Para isso, é essencial que os grupos de docentes das IES possam se reunir constantemente para que esse processo sempre atinja os melhores resultados”.
Ele ainda ressaltou a responsabilidade do estado em garantir a qualidade do ensino, mesmo na iniciativa privada. Para isso, é fundamental ter indicadores para medir a qualidade do que está sendo ensinado.
– A instituição superior de hoje é quem diploma o aluno. Se ela fingir que ensina e fingir que avalia, ela não finge que dá diploma. Ela dá diploma. Por isso, é preciso ter um mecanismo para cobrar isso das instituições. Também se faz necessário o acompanhamento de indicadores para avaliar o processo em si e todas as etapas do processo para, depois, analisar o ‘produto’, que é o egresso – rebate.
Vasques reforçou ainda a urgência de avaliar os resultados do último relatório do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes). Parte da conclusão do documento mostrou que os estudantes, de forma geral, demonstraram dificuldade em relacionarem teoria e prática, competência exigida em todas as questões. Além disso, ficou aparente o reduzido conhecimento dos alunos sobre negócios, mercados e gestão de empresas na prática. “Se queremos medir o que está acontecendo, tem-se que avaliar o ciclo”.
Curso em debate
Após a palestra, Adm. Agamêmnom Rocha Souza, diretor de Educação, Estudos e Pesquisas do CRA-RJ, mediou o debate entre os professores Edson Koji Kondo, Luiz Cezar Vasques e Antônio Freitas.
A discussão começou discutindo a importância do ensino regionalizado em cursos de instituições que possuem unidades em diversos locais do país, como os cursos EAD. O consenso geral entre os participantes foi de que para buscar a excelência, o curso tem que se adaptar ao seu ambiente. Vasques, por exemplo, ressaltou que não adianta oferecer um conteúdo pasteurizado para realidades que são completamente diferentes.
O Adm. Leocir Dal Pai, presidente do Conselho, destacou ainda a importância da figura do coordenador do curso, que tem por obrigação zelar pela qualidade do ensino que oferece. Para ele, esse fator é essencial na valorização do curso de Administração e dos seus egressos para o mercado de trabalho.
O debate se encerrou num questionamento do professor Jefferson Coelho, da faculdade São Judas Tadeu, que perguntou se as novas DCNs estão preparadas para acompanhar o avanço tecnológico que se faz presente no dia a dia dos novos estudantes.
– As DCNs são absolutamente abertas, a responsabilidade passou a ser dos professores e coordenadores, que sabem o tipo de aluno que ingressa e o tipo de aluno que quer ver egresso, e sabe o que têm que acrescentar. E pode fazer isso todo ano – diz o professor Antonio Freitas.
Brindes
Os participantes que estiveram presentes presencialmente no EPROCAD participaram de sorteio com brindes de parceiros do evento. Os premiados receberam chocolates da Cacau Show e livros da Livraria Insight.
Orgulho da profissão
Durante o evento, houve também um momento emocionante que foi a entrega da maior honraria da profissão: a Medalha Administrador Belmiro Siqueira. A homenagem é realizada pelo CRA-RJ aos Administradores que exerceram e contribuíram para a profissão por pelo menos 40 anos de registro profissional ininterrupto.
Agraciados:
Francisco Paulo De Melo Neto
Hilton Chi
Márcio Ribeiro Rosa Ferreira Bemvindo
Ricardo José Ferreira Leite
Sonia Maria dos Santos Silva
O futuro é logo ali
No encerramento, Adm. Wagner Siqueira, diretor-geral da Universidade Corporativa do Administrador – UCAdm, ressaltou a importância de ensinar aos alunos as novas competências necessárias à 4ª Revolução Industrial.
Para ele, é fundamental que as faculdades se modernizem, usufruindo mais da tecnologia em sala de aula. “É preciso levar o país à contemporaneidade dos tempos presentes. No mundo do Google, o brasileiro ainda pensa com tabela Excel, quando não com máquina de calcular”, afirma.
– Por exemplo, as tecnologias devem permitir diagnosticar o aprendizado do aluno e complementar o trabalho do professor. Dessa forma, vamos garantir que o aluno tenha ideias melhores e mais compreensivas, com aprendizagens personalizadas.
A educação também precisa ser customizada, saindo da produção em massa do saber – diz.
Wagner comenta que as atividades de ensino-aprendizagem ganham maiores possibilidades de meter a mão na massa, de aprender fazendo e de fazer as devidas conexões entre a teoria e a prática. “Hoje, já se dispõe de um infinito espaço de aprendizagens por meio das facilidades digitais”.
– Por outro lado, não podemos confundir a tecnologia com deixar para o sistema automatizado de aprendizagem o papel de ensinar o aluno. Apesar da educação ser centrada no aluno, o professor como líder, facilitador e interventor, sempre será fundamental para todo o processo – conclui.