A rebelião das novas elites se constitui também em uma tribo, com características bem próprias, que marca o nosso tempo. Os seus componentes pensam à esquerda, mas vivem à direta. Pelo menos naquilo que equivocadamente se convencionou considerar como esquerda e direita no Brasil, com os seus estereótipos, preconceitos e deformações.

Em geral são ricos, já que regiamente mostram-se recompensados pelas inúmeras organizações em que, transitoriamente, prestam colaboração, sem desenvolver quaisquer vínculos mais profundos de compromisso e dedicação. Vestem-se sem ostentação, ora casual, ora formal, ajustando-se às circunstâncias apropriadas, como se não tivessem tanto dinheiro ou se apresentando “nos trinques” quando necessário. Gostam de passar férias e feriados em lugares exóticos, principalmente em países africanos e asiáticos, nas montanhas da Nova Zelândia ou no Caribe. O máximo permitido é Cuba, a Disneylândia da esquerda brasileira. Mas não dispensam os voos de classe executiva e o dernier cri da última trapizonga tecnológica. Compadecem-se da miséria e da fome nos países periféricos, mas não abrem mão do vinho grand cru e das delícias da nouvelle cuisine.

As novas elites são, assim, um híbrido não muito bem definido entre hippies e yuppies: vocalizam os valores de liberdade e de afirmação dos anos 60, mas focam a ação profissional na busca da riqueza. Moralizam a transgressão e produzem um discurso de rebeldia ao establishment, mas contraditoriamente atuam na busca permanente por usufruir o máximo de conforto, benefícios e privilégios que sejam capazes de apropriar e acumular.

A rebelião das elites é a contracultura às organizações que se pretendem autocultuar como se fossem verdadeiras seitas do trabalho, constitui-se como um verdadeiro apartheid social no mundo empresarial globalizado.

São os anarquistas do terceiro milênio, não aceitam limites ou laços permanentes com lugares, pessoas e organizações. Em verdade, nem com cidades, regiões ou países. São os novos nômades dos tempos globalizados.

Não são os anarquistas contrários à globalização, tão comuns nas manifestações de rua nos últimos tempos. Ao contrário, centram a sua rebeldia em um anarquismo individualista, em que buscam tirar partido temporário das circunstâncias, onde quer que estejam.

Vagam, como predadores, de organização em organização, sempre em busca de sua autorrealização, prestígio e reconhecimento, a despeito das consequências que geram nos circunstantes por suas decisões sempre voltadas para os interesses dos que detêm o poder no mundo dos negócios.

São as forças mercenárias das elites globalizadas, cada vez mais requisitadas para o enfrentamento de crises específicas ou para o redirecionamento de metas, missões e visões, ou para as joint ventures soi-disant de incorporações e fusões.

Não vestem a camisa de ninguém: países, organizações, equipes, pessoas, parentes ou familiares. São leais somente a si próprios e ao que temporariamente realizam. São como algumas superestrelas do futebol mundial, como o Ronaldinho Gaúcho que, certa vez, declarou à imprensa que ganhar o campeonato europeu com o Barcelona era muito mais importante do que participar da Copa do Mundo jogando pelo Brasil.

São rigorosamente contrários à atual ordem econômica mundial, mas nada fazem para mudá-la, além de discursos críticos, bastante ácidos. Ao contrário, tudo fazem para tirar do sistema o que puderem de melhor para si.

Adm. Wagner Siqueira
Presidente
CRA-RJ Nº 01-02903-7