Por Bismark Alves
Sob supervisão de Érika dos Anjos|

De acordo com balanço realizado em 2021, pelo Censo da Educação Superior, do Ministério da Educação (MEC), o Brasil possui 599.977 pessoas na faixa dos 40 anos matriculados em Universidades. No entanto, o assunto ganhou destaque nas últimas semanas após estudantes de uma universidade particular zombarem de uma colega por considerá-la “velha”.

O caso aconteceu em uma universidade particular de Bauru, em São Paulo. Na ocasião, três estudantes do curso de Biomedicina alegaram que a colega de sala não deveria estar na instituição. Após o vídeo viralizar, a repercussão do acontecimento gerou um debate sobre etarismo, ou seja, o preconceito em função da idade. De acordo com o MEC, o aumento do número de estudantes 40+ é de 171,1%, considerando os anos de 2012 e 2021. 

Um outro levantamento, feito pelo Censo Escolar de 2022, aponta que cerca de 900 mil brasileiros com mais de 40 anos estão na escola para aprenderem a ler, escrever e dominarem conhecimentos básicos de matemática e ciências. São estudos que revelam a existência de um grupo de adultos e idosos que enfrentam diversas barreiras para estudar, chegarem a uma universidade e garantirem sua formação acadêmica. Além do olhar de preconceito existente na sociedade, essas pessoas também precisam enfrentar problemas relacionados à autonomia, intolerância e tempo.

O presidente do CRA-RJ, Adm. Wagner Siqueira, vê como positivo o permanente processo de estudo destes profissionais. 

“Na medida que formado em Administração sobe na escala hierárquica aumenta a necessidade conceitual, administrativa e gerencial. Portanto, é muito interessante uma pessoa se formar no curso de graduação com mais de 40 anos. O Administrador é aquele que desenvolve uma competência gerencial para realizar através dos outros”, destacou Wagner, que também citou as mudanças que se fazem necessárias na área de Recursos Humanos, visando a quebra do preconceito dentro das empresas:

“A principal contribuição que o profissional de Recursos Humanos pode fazer é que ele tome consciência, além de exigir a mudança dos executivos e dos gerentes operacionais de linha, ele precisa estar disposto também a produzir essa automudança. O importante do papel conceitual das organizações é que não basta ser bom tecnicamente é preciso ser bom comportamentalmente, portanto o profissional de Recursos Humanos precisa compreender que o executivo de linha pode ser comportamentalmente muito melhor sob o ponto de vista de gestor do que ele que tem apenas as teorias”, esclareceu o presidente do  CRA-RJ. 

Elas falam

Elizabeth Regina Formozinho de Sá, estudante de 57 anos do curso de Administração na Unifeso e estagiária no INSS, superou problemas familiares para conseguir adentrar na universidade e ressaltou as diversas áreas de atuação disponibilizadas pela Administração. 

“Diante de um sofrimento pessoal que tive, meu irmão me ofereceu a faculdade. Agarrei a chance e entrei um mês depois, morrendo de medo, pois já tinha um mês e meio que a faculdade havia começado. A idade é tudo de bom no sentido de focar e conseguir pegar as matérias. Estando entre Direito e Administração, optei pela segunda, que era mais acessível financeiramente além de ter um ano a menos que o Direito e por já ter sido comerciária. O leque de opções da Administração é muito bom, estou gostando de várias áreas, sem falar que o empreendedorismo está em voga e abrange diferentes idades. Quem não precisa saber administrar?”, ponderou Elizabeth, que também citou projetos que incentivam financeiramente os estudantes, como Fies e o Prouni, mas afirmando que independente da idade ou dificuldade, o importante é ‘ir à luta e correr atrás’. 

Iguaciara do Nascimento Santos se formou aos 73 anos

Iguaciara do Nascimento Santos, de 73 anos recém-formada em Gestão de Recursos Humanos pela Unyleya, lamentou o ocorrido em São Paulo e destacou a perseverança como a chave para quem está lutando pelos estudos e formação acadêmica. 

“Com muita tristeza, é lamentável que três jovens não tenham a sensibilidade de aceitar como colega de curso uma outra pessoa simplesmente em razão da idade dela. Como se isso não bastasse, na atual conjuntura não existe espaço para este tipo de situação.   Quanto a pessoa que sofreu bullying, que ela tenha força. Desistir do sonho nunca, e continuar, que o final é lindo. Afirmo não ser fácil, principalmente para quem trabalha, tem família para cuidar, mas vale a pena persistir. Continue, no final você realizando seu sonho, percebe que valeu a pena”, opinou Iguaciara, que salientou a importância da agregação de valores dentro da área de Recursos Humanos: 

“Ao valorizar a diversidade dentro da instituição, cria-se um ambiente onde todos servidores e gestores respeitam a diferença entre os profissionais. Entretanto, muito ainda deverá ser feito para alcançarmos estes objetivos, não dá para ocultar a existência de todo tipo de preconceito racial, cultural, social, linguístico, religioso e gênero”, ressaltou. 

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) calcula que, em 2040, 56% da força de trabalho do Brasil será composta por pessoas com mais de 45 anos, mostrando que o debate sobre etarismo torna-se cada vez mais necessário e importante para a sociedade. Diante dos paradigmas empresariais e exemplos de superação, o preconceito pode gerar dúvidas, mas a mensagem que deve ser passada é de que nunca é tarde para adquirir conhecimento.