Vitor Abdala – Agência Brasil

Por Josué Amador |

Na última segunda-feira (2), a tragédia no Museu Nacional, na Quinta da Boa Vista, na Cidade do Rio de Janeiro, completou um ano e as notícias sobre a recuperação do acervo consumido pelas chamas têm sido positivas. Mas a reestruturação e o futuro desse patrimônio histórico mundial, bem como de outros prédios públicos, ainda carecem de muita atenção e cautela, para evitar que outras fatalidades afetem mais uma vez a memória da humanidade, como ocorreu em 2018.

Para o coordenador da Comissão Especial de Gestão em Turismo do CRA-RJ, Adm. Julio Loureiro, é preciso lançar mão da iniciativa privada para a captação de recursos, bem como do potencial turístico que esses locais têm para que haja uma real movimentação financeira, subsidiando a manutenção efetiva dessas unidades.

“No estado do Rio de Janeiro, assim como em outros estados, o potencial turístico para uma parcela significativa de turistas e moradores dos próprios locais é fundamental. O trabalho de base realizado com escolas como suporte a diversas disciplinas justificam ter e manter estas estruturas que contam um pouco da história de um povo e a de outras nações. Museus temáticos como o Museu Aeroespacial são indutores e pontos turísticos importantes para uma cidade”, destacou Loureiro.

Para ele, também é necessário empregar profissionais realmente capacitados, principalmente na área da Administração. Assim, a gestão de recursos materiais e humanos, poderiam levar os museus do Rio de Janeiro, e do resto do Brasil, a outros patamares, mais sólidos e autossustentáveis.

Confira o bate-papo que o CRA-RJ teve com o Administrador Julio Loureiro, na íntegra.

 

CRA-RJ –  Como o senhor avalia os trabalhos, sob o ponto de vista da gestão, que foram realizados nesse um ano pós-tragédia?

Adm. Julio Loureiro – Trata-se de uma operação complexa e multidisciplinar. Quando se fala na Administração Pública, deve-se considerar o rigor do processo administrativo, formulação de editais, liberação de verbas, o que difere da iniciativa privada por suas tipicidades e tempos distintos. Todavia existe um esforço dentro do país e ajuda externa para a recomposição do acervo e da estrutura atingida pelo sinistro.

CRA-RJ –  Como capitalizar e movimentar o mercado interno em relação a museus no Estado do Rio de Janeiro e no restante do país?

Adm. Julio Loureiro – O apoio da iniciativa privada é determinante. Os recursos públicos, quando necessários, devem servir como indutores, passando a manutenção e a operação para a iniciativa privada ou mista, quando possível. Os espaços e acervos quando bem geridos e empregados com fins culturais e didáticos, podem render bons dividendos culturais para uma sociedade. A presença de gestores com formação multidisciplinar: planejamento, administração de contratos, prevenção e perdas, finanças, orçamento, compras, apenas para citar algumas competências, faz toda a diferença.

No estado do Rio de Janeiro, assim como em outros estados, o potencial turístico é fundamental para uma parcela significativa de turistas e moradores dos próprios locais. O trabalho de base realizado com escolas, como suporte a diversas disciplinas, justificam ter e manter estas estruturas que contam um pouco da história de um povo e de outras nações. Museus temáticos, como o Museu Aeroespacial, são indutores e pontos turísticos importantes para uma cidade.

CRA-RJ –  O que deve ser feito daqui para frente para recuperação do Museu Nacional e não deterioração de outros Museus?

Adm. Julio Loureiro – Como antecipado, ao usar as ferramentas de gestão, o planejamento e a prevenção são imprescindíveis. Evitar ao máximo a ocorrência de sinistros serve como balizador para a preservação. Uma mentalidade preventiva é muito menos custosa que uma corretiva.

Tânia Rego – Agência Brasil

CRA-RJ –  Investir em novos museus e preservar os que já existem, como equilibrar essa conta?

Adm. Julio Loureiro – A conta não é fácil, mas organizar e categorizar os acervos seria uma forma de evitar as fragmentações e explorar lacunas de interesse ainda carentes. A cidade do Rio de Janeiro possui encantos e espaços que podem ser utilizados como estruturas temporárias, captando o interesse e atenção de moradores, estudantes e visitantes.

CRA-RJ –  Como o profissional da Administração deve se preparar para evitar grandes problemas nos pontos turísticos e superar tragédias como esta?

Adm. Julio Loureiro – A prevenção é o caminho. A construção de contratos mais robustos, sob o ponto de vista da abrangência de serviços e responsabilidades, pensamento preventivo, aplicação de ferramentas de gestão no planejamento e uso de equipes multidisciplinares na elaboração são algumas medidas interessantes para se evitar gastos desnecessários com ações corretivas, independentemente da fartura ou carestia de recursos.

Existem excelentes escolas de formação em gestão no estado e no país. Contratar bons profissionais para atuar na gestão destes espaços remete à sustentabilidade de médio e longos prazos das ações, objetivando a manutenção dos serviços à toda a sociedade.

Finalmente, acredito no potencial cultural e turístico associado aos espaços dos museus e equivalentes. Em tempos de mídias sociais e conectividade, existem muitas oportunidades para manutenção do público que atualmente frequenta estes espaços e daqueles que podem conhecer um pouco mais da história, das origens da sua cidade, estado ou país.