Por Josué Amador
Ainda segundo o estudo, a modalidade ‘cresceu 27 pontos percentuais (p.p) desde 2010, quando os ingressantes nos cursos EAD correspondiam a 34%’. Na rede privada, responsável por graduar 72% dos professores, a quantidade dobrou em quatro anos, saindo de 49,4 mil formados em 2013 para 98,5 mil em 2017.
Para o diretor-geral da Universidade Corporativa do Administrador (UCAdm), Adm. Wagner Siqueira, conselheiro federal pelo Rio de Janeiro, a Educação a Distância é uma realidade antiga e que as novas ferramentas online a tem consolidado cada vez mais.
“Se hoje são feitas consultas e cirurgias a distância, achar que o processo educacional não vai usar esse recurso é ter uma visão absolutamente reacionária, uma resistência à mudança. É evidente que determinadas ações e processos de ensino terão de ser realizados presencialmente, olho no olho. Há muitos e muitos anos já se fazia curso por correspondência, então, essa visão de que tudo precisa ser presencial quer manter o sistema de ensino na época da Idade Média”, declarou Siqueira.
Apesar de apoiar a evolução quanto a forma de ensino, o diretor-geral da UCAdm alerta quanto aos perigos do uso irrestrito da modalidade.
“A parte negativa é que esse processo de aprendizagem, ao invés de ser utilizado naquilo que ele tem de forte – com um potencial riquíssimo, é reduzido à uma estratégia de diminuição de custo, pagando menos aos professores e, ganhando mais em cima da mensalidade dos alunos. Mas tanto no ensino público, quanto no ensino privado, tem-se que ter cursos presenciais e a distância, dependendo da forma como a formação é realizada”, defendeu Siqueira.
É também o que pensa o vice-presidente de Educação Estudos e Pesquisa do CRA-RJ, Adm. Antonio Andrade, salientando que a situação tende a se intensificar, caso a Educação a Distância continue sendo tratada de forma indiscriminada. Ele explica que a má formação de corpo docente produz uma educação de base ainda mais deficitária.
“É claro que uma educação básica consistente, com acesso a conteúdo atualizado e de qualidade, laboratórios adequados, entre outras ferramentas educacionais, permite que o ensino superior seja desenvolvido com mais propriedade. Mas se temos um modelo de ensino, no Brasil, que tende a ser profissionalizante, ou seja, que busca inserir os indivíduos no mercado de trabalho o mais rápido possível e a qualquer custo, o resultado será formação de profissionais com déficit de pensamento crítico, estratégico e, às vezes, até técnico”, ponderou.
Andrade, que também é professor, disse que ao longo de sua atuação como docente constatou que a quantidade de estudantes em cursos presenciais também varia de acordo com as condições socioeconômicas de cada região. Isto se daria pelo fato de que muitos precisam trabalhar e estudar e, com isso, a EAD oferece horários flexíveis, além de preços mais acessíveis. Mas isto pode gerar um ciclo quase sem fim de má formação profissional, subempregos, salários baixos e inacessibilidade a cursos melhores.
“Embora crescente em número e qualidade, com chats de discussão e oportunidades para troca e compartilhamento entre os participantes, não tem a mesma intensidade do presencial, onde o debate é fundamental no processo de formação profissional. Com isso, o mercado acaba eliminando os menos capacitados. Logo, as pessoas correrão atrás de aprimoramentos para ingressarem em certas áreas. E aí, mais uma vez o profissional precisará fazer cursos e, como não tem tempo, fará em EAD, que pode não ser a melhor opção para o tipo de formação em questão”, destacou Andrade.
A base para o estudo divulgado é do Censo da Educação Superior, do Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade) e do Conceito Preliminar de Curso (CPC), que são coletadas pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) e pelo Ministério da Educação (MEC).