Por Josué Amador |
Um fato comum a todos os Governos, a nível mundial, é que nenhum deles estava preparado para enfrentar a crise desencadeada pelo novo coronavírus (Covid-19), descoberto na China e espalhado ao resto mundo. Após os altos índices de contágio, as lideranças começaram a tomar algumas medidas para tentar conter a pandemia e mitigar os efeitos colaterais, mas nem todas foram eficazes diante do cenário apresentado.
O coordenador da Comissão de Gestão Pública do CRA-RJ, Adm. César Campos, analisou as decisões dos Governos do Brasil, em especial do Rio de Janeiro, e destacou que em tempos de crise é preciso haver, por exemplo, uma liderança coerente em suas ações e decisões, que consiga conduzir da melhor maneira possível as sublideranças e os liderados mais comuns, promovendo a utilização eficiente dos recursos disponíveis e da mão de obra tecnicamente qualificada.
“As medidas tomadas foram corretas, mas se tornaram menos eficazes, por conta da falta de uma coordenação entre os governantes das três esferas de poder. Vimos as divergências em torno do conceito e do grau de isolamento a serem adotados pela população; divergências sobre uso de medicamentos; divergências no conceito de atividades essenciais, que só geraram mais insegurança e mais incerteza, pois algumas dessas questões eram orientações incontestáveis no meio científico”, disse Campos.
Além de atingir de forma direta a saúde das pessoas e colapsar os sistemas de assistência médica, a pandemia tem refletido resultados nocivos no mercado de trabalho, na economia e nas relações interpessoais, por exemplo. Recessão econômica, quedas nas bolsas de valores, fechamento de empresas, demissões em massa, aumento nos preços de produtos e serviços são alguns dos dilemas já enfrentados por muitos. Caberá aos Governos e demais lideranças a tomada de decisões e ações que corroborem a recuperação de todas as áreas socioeconômicas, acelerando o equilíbrio global.
“Todas as esferas de governo terão que manter um alto grau de assistência social para evitar a fome em larga escala. As atividades profissionais e empresariais têm que receber suporte e incentivo dos governos para se manter em nível mínimo de sobrevivência. Um exemplo próximo destas decisões ocorreu na superação da crise de 1929, quando o governo norte-americano decidiu reconstruir a economia do país incentivando várias atividades para gerar empregos como, por exemplo, a contratação de artistas na construção civil, que melhoraram o design dos prédios construídos na época”, explicou.
O Adm. César de Campos ainda destacou que ‘seria suicídio econômico’, para os Governos, adotar comportamentos desordenados e individualistas e não compreender que é necessário investir alto para que depois haja a recompensa em todas as esferas envolvidas nos processos produtivos.
Confira abaixo as respostas completas do coordenador da Comissão Especial de Gestão Pública, Adm. César Campos, sobre o tema.
CRA-RJ: Sob o aspecto de Gestão Pública, como o senhor avalia as medidas adotadas pelos Governos do Estado do Rio de Janeiro e do Brasil, no que diz respeito à pandemia do novo Coronavírus (Covid-19)?
Adm. César Campos: Em qualquer crise em sistemas organizacionais, a presença de uma liderança que decide e orienta é indispensável para um caminhar seguro e coeso de todos os envolvidos. O que observamos foi a falta de uma liderança nacional atuante, presente, coerente e segura, o que torna uma crise muito mais difícil para ser superada. A falta de unidade e coordenação só desperdiça energia e recursos indispensáveis ao enfrentamento de uma crise.
As medidas tomadas foram corretas, mas se tornaram menos eficazes, por conta da falta de uma coordenação entre os governantes das três esferas de poder. Vimos as divergências em torno do conceito e do grau de isolamento a serem adotados pela população; divergências sobre uso de medicamentos; divergências no conceito de atividades essenciais, que só geraram mais insegurança e mais incerteza, pois algumas dessas questões eram orientações incontestáveis no meio científico.
É muito importante que o Ministério da Saúde e os meios de comunicação continuem abastecendo a população de informações para que as pessoas possam tomar suas decisões, independentemente dos conflitos entre os governantes. A grande prova da eficácia destas ações é que, apesar dos conflitos e divergências, a população informada vem seguindo as orientações que entendem serem as que mais trazem proteção individual e coletiva, com provas nunca vistas de solidariedade social.
CRA-RJ: Como o profissional da Administração pode contribuir com a gestão eficiente desse momento de crise, na esfera pública?
Adm. César Campos: O profissional de Administração, neste quadro de crise e conflito, precisa de dois elementos importantes – a competência técnica para atuar de forma eficaz e a compreensão do quadro político de descoordenação nas decisões, para que seu trabalho não se torne ineficiente e desgastante.
CRA-RJ: Os Governos, em todo o mundo, não estavam preparados para este cenário, quais lições a gestão pública pode tirar desse momento?
Adm. César Campos: Não havia e nunca haverá preparo suficiente dos Governos em qualquer parte do mundo para fenômenos imprevisíveis e desconhecidos em sua forma e em sua dimensão.
O cenário mais próximo que podemos chegar para comparação seria o cenário de uma guerra mundial de todos os países contra um único inimigo, sem uso de armas letais e sem equipamentos de destruição material, ainda considerando que o inimigo ataca indiscriminadamente e é invisível. Nem em filmes de ficção imaginaram o quadro que enfrentamos hoje.
Por outro lado, a crise que enfrentamos ainda está na esfera da saúde, mas a grande batalha se dará no campo econômico que já começa a se delinear, quando os países começam a tomar as mesmas decisões econômicas, independentemente, do grau de desenvolvimento que possuem.
CRA-RJ: Quais caminhos a Gestão Pública deveria adotar para de forma eficiente, manter a saúde econômica nas esferas municipais, estaduais e federal?
Adm. César Campos: Só existe um caminho. Todas as esferas de governo terão que manter um alto grau de assistência social para evitar a experiência da fome em larga escala. As atividades profissionais e empresariais têm que receber suporte e incentivo dos governos para se manter em nível mínimo de sobrevivência. Um exemplo próximo destas decisões ocorreu na superação da crise de 1929, quando o governo norte-americano decidiu reconstruir a economia do país incentivando várias atividades para gerar empregos como, por exemplo, a contratação de artistas na construção civil, que melhoraram o design dos prédios construídos na época.
Seria suicídio econômico adotar atitudes governamentais descoordenadas e individualistas, com a atitude de salvar-se primeiro. Os governos terão que acreditar que é preciso gastar primeiro para serem recompensados depois com o crescimento e estabilização da economia.
A crise é mundial, simultânea e complexa. Nenhum país se salvará sozinho. Vejam o exemplo da compra de equipamentos respiratórios que os EUA adquiriram da China tudo o que precisava e deixou França, Itália, Brasil e outros países sem qualquer alternativa imediata. Nesta atitude corre-se o risco de matar seu próprio mercado consumidor.
CRA-RJ: Quais deverão ser as medidas adotadas no pós-crise pelos Governos, para recuperação da máquina pública?
Adm. César Campos: Já respondida nas anteriores, porém também deve ser considerado um novo fenômeno mundial que é a era digital que entramos. Nunca tivemos tantas pessoas atuando à distância, mas conectadas. Nunca tivemos tantos serviços prestados à distância, com eficiência para suportar a demanda. Nunca tivemos tanta atividade em home-office como recentemente. Nunca tivemos essas variáveis em escala planetária. Esse é um mundo digital. E os governos e empresas que não entenderem, de fato, o que é um mundo digital, não vai conseguir justificar sua existência, decorrente da forma inadequada de operar, dos custos envolvidos e da velocidade das respostas.