Por Josué Amador | 

As organizações públicas e privadas precisam da Governança Corporativa para que haja a união de todos os agentes interessados nas referidas instituições, em nome de um bem comum. Em tempos de crise, como a que atualmente atinge o mundo, os fundamentos desse campo da Gestão continuam os mesmos: transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa, acrescidos de alguns outros princípios mais modernos, como gestão de riscos, ética e responsabilidade socioambiental.

Os membros da Comissão Especial de Governança Corporativa do CRA-RJ destacam alguns pontos para que o profissional da Administração dedicado a essa área obtenha sucesso em suas demandas. O coordenador da Comissão, Adm. Luiz Felix, observa que o aspecto mais relevante durante esse período de crise, devido ao novo coronavírus (Covid-19), é o quanto a organização pode ajudar a sociedade a se reerguer diante do caos generalizado. Assim, ele define que ‘vale a pena destacar um pouco a ideia de responsabilidade corporativa e  socioambiental’.

“A perspectiva da atuação do profissional da área de Governança, nesta crise, me parece que é privilegiar a abrangência social do papel de sua organização.  Ou seja, mais do que nunca deve ser enfatizada a função social das organizações.  Vamos imaginar que estamos no processo de planejamento estratégico de uma organização, investigando sua missão ou o seu propósito.  Neste caso, o centro da questão deve ser colocado em torno das seguintes perguntas: O que minha organização pode fazer para ajudar nesta crise? De que forma, nossa expertise, nossa maquinaria e nossa inteligência podem ser utilizadas para favorecer a contenção da pandemia e a preservação da vida?”, propôs Felix.

Todas essas indagações ajudam as organizações a decidirem como atuarão para que haja resultados positivos a curto, médio e longo prazo, unindo o poder público e privado para planejamento equilibrado e global. A Adm. Renata Lopes e o Adm. Sergio Botto destacam ainda o poder de uma boa gestão por parte das diretorias na tomada de decisão, por possuírem uma visão mais sistêmica e holística sobre o que acontece no tempo atual, já antevendo o que virá mais a frente.

“Inicialmente é preciso lembrar que as crises, de um modo geral, são oportunidades para as organizações efetuarem uma revisão nos seus processos de trabalho, inclusive quanto à Governança Corporativa, se reinventarem e se ajustarem a uma nova realidade, quebrando paradigmas anteriores. É visível que, em algumas organizações, a alta administração fica muitas vezes passiva esperando que as áreas técnicas liderem a mitigação dos danos causados por uma crise. Não há dúvida de que deveria ser o contrário. A alta administração deve liderar esse trabalho de mitigação de riscos, instituindo formalmente alguns protocolos para gerarem informações na tomada de decisões em momentos de crise e pós-crise”, enfatizam.

Abaixo, você pode conferir as respostas completas dos membros da Comissão Especial de Governança Corporativa do CRA-RJ e compreender um pouco mais sobre como agir durante e depois da crise.

 

CRA-RJ: Em períodos de crises globais, como os profissionais da área de Governança Corporativa devem atuar para que suas estratégias sejam aplicadas nas organizações onde trabalham?

Adm. Luiz Felix: Naturalmente, os fundamentos básicos da governança corporativa – transparência, equidade, prestação de contas e responsabilidade corporativa, devem ser considerados em todos os momentos, mesmo em situações de crise, como a que estamos atravessando. Modernamente, outros fundamentos têm-se juntado a esses princípios básicos e, dentre esses, seria importante destacar três: gestão de riscos, ética e responsabilidade socioambiental.

Talvez não seja necessário falar sobe cada um desses aspectos detalhadamente, até porque sua compreensão é intuitiva, mas vale a pena destacar um pouco a ideia de responsabilidade corporativa e de responsabilidade socioambiental.

O IBGC define a responsabilidade corporativa como aquela que se vincula à viabilidade econômico-financeira das organizações, levando em consideração as diversas naturezas de capital envolvido (financeiro, manufaturado, intelectual, humano, etc.).

A perspectiva da atuação do profissional da área de Governança, nesta crise, no entanto, deve privilegiar, contudo, a abrangência social do papel de sua organização.  Ou seja, mais do que nunca deve ser enfatizada a função social das organizações.

Vamos imaginar que estamos no processo de planejamento estratégico de uma organização, investigando sua missão ou o seu propósito.  Neste caso, o centro da questão deve ser colocado em torno das seguintes questões: “O que minha organização pode fazer para ajudar nesta crise?”, “De que forma, nossa expertise, nossa maquinaria, nossa inteligência podem ser utilizadas para favorecer a contenção da pandemia e a preservação da vida?”.

Neste ponto, cabe um exemplo que li de uma empresa de roupas na Argentina que tomou a iniciativa de parar sua produção de vestidos e passar a produzir máscaras de proteção.

Podemos dar o exemplo contrário também:  a tradicional lei da oferta e da procura, onde quanto mais a população precisa de um determinado item para preservar sua vida, mais seu preço aumenta ou some do mercado.  Esta seria a visão da predominância da perspectiva econômica sobre a perspectiva social.  Ou seja, a produção de itens que podem atenuar a crise ou salvar vidas serviria ao lucro e nessa lógica é que deveria ser observada.  Nesta lógica, quanto mais tempo levar a crise, melhor; quanto mais ameaçadora for a transmissão do vírus, melhor.

Outras questões que os profissionais de governança devem levar para a discussão estratégica de sua organização tratariam de “Como a organização deve agir em relação a seus clientes, funcionários, parceiros, sócios e outros, para preservar e respeitar a vida?”, “De que forma podemos preservar a sustentabilidade econômica da empresa, diante de seu compromisso maior com a vida e com a sociedade?” e, para não cansar o leitor com tantas questões, “Como e que tipo de apoio devo buscar das entidades governamentais para garantir a sustentabilidade da organização e da vida humana?”.

Permitam-me, por fim, fazer apenas uma breve observação sobre esse último tópico.  É bem difundida, aceita e consagrada a ideia da preservação do planeta. Ótimo. Uma das principais perspectivas dessa lógica é a de que a vida não prevalece em um planeta doente.  Bem, agora a questão é diferente.  A crise que passamos tende a tornar o planeta mais sadio, mas atacar duramente a vida, sobretudo a vida humana.  Será mais fácil ou mais difícil entender que a vida é o foco central dessa discussão?

CRA-RJ: Quais as principais diferenças entre a Governança Corporativa privada e a Governança na Gestão Pública neste cenário de crise mundial?

Adm. Luiz Felix: Penso que a diferença substancial está na abrangência de suas ações.  Como falamos anteriormente, podemos fazer um relacionamento entre a responsabilidade corporativa e a responsabilidade socioambiental dentre os fundamentos da Governança Corporativa.

Do ponto de vista da gestão pública, há que se pensar na própria sobrevivência das organizações, respeitadas, obviamente, em primeira linha, a vida humana.  Na pergunta anterior, tive a oportunidade de falar sobre o foco a ser dado pelas organizações empresariais, voltado para a preservação da vida.  No entanto, não se pode desprezar a própria sustentabilidade das organizações e do mercado.  Nesse sentido, o foco da gestão pública deve ser o de garantir a sustentabilidade desse mercado.

Entendo, assim, que a atuação das organizações empresariais ficará limitada e é natural que isso aconteça, dadas as restrições feitas à preservação da vida humana. A ação pública deve apoiar o cumprimento dessas restrições e, avançando, gerar condições para que as organizações sobrevivam, sejam elas de grande, médio ou pequeno porte.  Evidentemente, a gestão pública deve alcançar também empreendedores individuais, trabalhadores assalariados, aposentados, pensionistas ou aqueles que não recebem qualquer remuneração.

Também a questão da transparência, da equidade e da prestação de contas merecem um destaque especial nessa questão.  Do ponto de vista das organizações empresariais, esses 3 fundamentos têm, conceitualmente, foco aguçado no relacionamento com aqueles mais próximos, sejam eles sócios, principalmente, mas também funcionários, fornecedores, mercado financeiro e clientes.

É louvável o esforço que estamos vendo para que esses princípios sejam respeitados, mas parece evidente que sofreremos alguns arranhões, mesmo porque ninguém deseja que esta situação atual dure o tempo que seria necessário para que as organizações alterassem seus procedimentos integralmente, de forma a se ajustar perfeitamente às condições estabelecidas por esta crise.

Do ponto de vista da Gestão Pública, os princípios da Administração Pública têm enorme e fundamental importância nesses momentos e se confundem com os fundamentos mencionados.   Como todos sabemos, os princípios da Administração Pública são a Legalidade, a Impessoalidade, a Moralidade Administrativa, a Publicidade e a Eficiência.

A atuação do Estado, nesses momentos de crise, por vezes terá dificuldades em contemplar, da melhor forma, todos esses princípios, da mesma forma como faz, ou deveria fazer, em períodos normais.  Isso é compreensível. Por outro lado, a crise não pode ser desculpa para que ações inescrupulosas sejam cometidas, quando poderiam ser evitadas, seja em número (quantidade de eventos) ou em volume (valor envolvido no total dos eventos).

CRA-RJ: A Governança Corporativa mitiga os danos causados por uma crise, mas como ela pode preparar as organizações para o pós-crise?

Adm. Renata Lopes e Adm. Sergio Botto: Inicialmente é preciso lembrar que as crises, de um modo geral, são oportunidades para as organizações efetuarem uma revisão nos seus processos de trabalho, inclusive na sua Governança Corporativa, se reinventarem e se ajustarem a uma nova realidade, quebrando paradigmas anteriores.

É visível que em algumas organizações, a alta administração fica muitas vezes passiva esperando que as áreas técnicas liderem a mitigação dos danos causados por uma crise. Não há dúvida de que deveria ser o contrário. A alta administração deve liderar esse trabalho de mitigação de riscos, instituindo formalmente alguns protocolos para gerarem informações na tomada de decisões em momentos de crise e pós-crise.

Podemos pensar que as boas práticas de governança são armas de defesa para as empresas diminuírem seu nível de exposição a risco, o seu custo de capital e perpetuar negócios.

Creio que nesse momento serão essas mesmas armas que devem ser utilizadas para repensar seus negócios e implementar mudanças na forma de atuação.

Uma coisa é ter código de ética, regulamento interno, política de negociação e manual de conduta. Outra bem diferente é acompanhar de fato se há uma aplicação efetiva e colocar em prática o que está no papel, ou seja, tornar efetivas as orientações e direcionamentos constantes das políticas internas.

Há que se reconhecer, contudo, que essas iniciativas efetivamente não estão no DNA das empresas brasileiras e, por isso, talvez muitos venham a sofrer mais do que o necessário diante dessa e de outras crises.

Uma coisa importante a ser observada é que a presente situação tem um campo visível de problemas, restrições e prejuízos, mas tem também um campo que pode ser apenas especulado.  O que acontecerá depois de passado esse momento inicial de contaminação e mortes?  Quando a economia puder ser retomada, quando as coisas começarem a voltar a seu lugar, quais serão os reflexos?  Como as empresas deverão reagir?  Aquilo que chamávamos de mundo VUCA (volátil, incerto, complexo e ambíguo) está agora exponencializado.

As empresas que possuem uma governança estruturada sedimentada têm muito mais chances de superar esses desafios futuros, uma vez que estão permanentemente trabalhando em termos de melhoria contínua.

Mais do que nunca, é preciso que a governança das empresas se apoie em leitura de cenários e tendências e crie perspectivas de solução, de forma a orientar suas ações.  Ao mesmo tempo, o sentido e a intensidade desses resultados (como na física) devem ser permanentemente avaliados, de forma a perceber se ainda estão alinhados com o cenário e as tendências.  Ainda nesse contexto, quatro perguntas devem nortear todo bom gestor constantemente, e, nesse período de quarentena, pode vir a ser muito útil mais uma vez. São elas:

1-        Estamos fazendo as coisas certas? – questionar o que está sendo feito e quais os resultados delas para a empresa;

2-        Estamos fazendo da forma certa? – será que há uma outra forma de fazer, mas rápida, com redução de custos;

3-        Estamos fazendo de um jeito bem feito? – tem algum jeito de ter mais qualidade e reduzir o desperdício, uma forma de alcançar mais qualidade; e

4-        Estamos obtendo os benefícios esperados? – o meu produto ou serviço atende ao meu consumidor, de que forma as pessoas veem o meu produto.

Outras duas práticas de administração que podem ser adotadas neste momento, para solução da crise atual e da perspectiva de recuperação nos desafios posteriores são ainda:

1-        Instituição de um Gabinete/Grupo de Trabalho de Crise, para verificar os danos na organização, efetuar uma avaliação de Riscos considerando o impacto nos stakeholders (partes interessadas), incluindo formalmente um Plano de Comunicação para prestação de contas; e

2-        Elaboração e implantação de Planos de Continuidade de Negócio, estabelecendo ações, responsáveis e prazos para uma atuação em momentos de crise.

Dito isso, sempre vale a pena lembrar que transparência, equidade, responsabilidade e sustentabilidade são valores básicos que independem do porte da empresa e que precisam partir do topo da administração, alcançar toda operação e se disseminar ao longo de toda a operação e da cadeia de fornecedores e clientes.

Primeiro passo é ter um Conselho de Administração bem constituído, com a participação de membros independentes com experiência adequada ao momento vivido pela empresa, pode e deve atuar no sentido de criar alternativas estratégicas, mitigar riscos necessários, evitar que a empresa corra riscos desnecessários, auxiliar o CEO nas suas decisões e cobrá-lo na implementação ágil e eficiente das decisões tomadas a nível de conselho.

O segundo passo é conseguir criar um fluxo eficiente dos dados corporativos para que as informações que chegam aos gestores sejam precisas e realmente adequadas a tomada de decisão. Ou seja, o gestor precisa dominar seus números e não digo apenas financeiros, mas em todos os setores da empresa.

Para que isso aconteça, os processos precisam estar mapeados e os procedimentos descritos. As empresas que possuem sistemas de gestão vertical nesse aspecto saem na frente, pois podem começar a implementar controles mais rígidos de seus processos.

A crise é um evento que surpreende os gestores e os diferentes públicos, além de criar altos níveis de incerteza e ameaça à continuidade das organizações, mas deve ser encarada como uma oportunidade de pensar diferente e recomeçar.

CRA-RJ: Como o poder Público pode se unir ao poder privado para aliviar os efeitos da crise para a sociedade, no curto, médio e longo prazo?

Adm. Luiz Felix e Adm. Cleide Monteiro: Essa pergunta é muito interessante porque expõe uma verdade que parece absoluta e indiscutível: não existe solução que seja admissível e considerável se não houver forte envolvimento do poder público, a curto médio e longo prazo.

Sob o aspecto da Governança, considera-se que a Governança Pública busque melhor gerir os recursos públicos de modo a alcançar os objetivos políticos desejados e atender ao anseio da sociedade, sustentando-se nos princípios da  capacidade de resposta,  integridade, confiabilidade, melhoria regulatória,  prestação de contas, responsabilidade e transparência.

O início dessa aproximação, devemos lembrar, deu-se há alguns anos, com a instituição das PPPs – Parcerias Público-Privadas, em que estados e municípios puderam aderir às parcerias, com concordância do órgão da União responsável por elas, após ouvida a população da localidade onde se pretendem aplicar as soluções desenvolvidas, porém focado no desenvolvimento de tecnologias aplicáveis em segurança pública e em modernização das cidades.

Nesse sentido, a ampliação da realização de parcerias e ações conjuntas com o poder privado envolvendo os atores do empresariado e dos diversos setores econômicos vem se consolidando como um caminho mais assertivo e coerente, a exemplo do que vem ocorrendo nas negociações do Governo com as empresas nacionais para o provimento de EPIs (equipamentos de proteção individuais) e a produção de equipamentos de UTI como estratégia para enfrentamento ao Covid-19.

Contudo, os modelos das PPPs possivelmente não venham a ser suficientes para dar conta de nosso desafio atual, visto que o modelo carece de revisão para assegurar a transparência, a competitividade e o alcance de resultados reais e positivos para a população. Será necessário, sem dúvida alguma, discutir profundamente os papeis, os objetivos estratégicos e um planejamento que seja amplo e contributivo para a sobrevivência e desenvolvimento nacionais, considerada a nova “realidade” que passaremos a viver.

Enfocando mais diretamente a questão apresentada, pode-se afirmar que, a curto prazo, para garantir que todos possamos manter o máximo de isolamento possível, como forma de evitar a propagação do vírus. Isso vai envolver orientação, educação e informação inequívoca e em linguagem direta por todas as vias disponíveis sobre o que é e como se dissemina a doença. Vale destacar também, evidentemente, o apoio financeiro para que tanto as pessoas como as empresas possam se manter ao longo desse período, até mesmo em termos de renúncia ou postergação da cobrança de taxas e impostos.

Ainda a curto prazo, cabe indicar também a garantia da fabricação/importação e disponibilização de equipamentos de saúde e de material de prevenção como respiradores, remédios, máscaras, luvas, álcool e outros produtos que possam retardar e reduzir o nível de contaminação ou atender a aqueles que já se encontram em diferentes níveis da doença.

Como uma ação do presente, mas que deverá surtir efeito a médio prazo, destacam-se os incentivos às pesquisas médicas para o desenvolvimento de novos remédios e vacinas ou até mesmo na identificação de remédios já existentes que possam vir a produzir efeitos no combate ao covid-19. No plano econômico, as práticas a serem adotadas neste campo recomendam ações planejadas para dar sustentação às áreas de saúde, educação, indústria, comércio, serviços e pesquisa científica.

A longo prazo, contudo, essa crise nos deixa uma lição importantíssima: o país precisa investir maciçamente em educação.  A ideia de se realçar a importância da educação, por si só, valoriza o ser humano em toda a sua expressão.  Evidente que não se quer dizer que se tivéssemos um nível decente de educação a crise não nos pegaria.  Não é essa a questão.  A lógica é a de que um povo que tenha educação é capaz de superar os problemas encontrados com maior facilidade e rapidez.   Isso também não significa que não serão cometidos mais erros.  Mas, pelo menos, serão erros novos, erros na tentativa de acertar.  Aqueles que duvidam que a educação deva ser a prioridade a médio e longo prazo – tão logo saiamos dessa crise, estão condenados e condenando o resto da população a ficarem reproduzindo os mesmos erros a cada tempo, em um círculo vicioso sem fim.

CRA-RJ: Neste tempo de pandemia e quarentena global, qual a importância de uma Governança Corporativa trabalhada a nível mundial? É possível? Como isso se daria?

Adm. Luiz Felix e Adm. Natalia Katzer: Em um cenário de pandemia com as características específicas e raríssimas vezes vivenciadas em nossa história, a Governança Corporativa global é, sem dúvida alguma, uma importante aliada para atravessar e superar esse momento de instabilidade.

Do ponto de vista das empresas, em um nível mais pontual, mas ainda assim com base na cooperação global, cabe o entendimento de que sua atuação deve ser a mais transparente possível com seus stakeholders, como já foi mencionado em outra questão, e capaz de gerar exemplos positivos, compartilhando informações precisas, buscando a sinergia em busca de novas soluções, tendo responsabilidade com seus colaboradores e clientes e buscando, ao mesmo tempo, a manutenção do negócio da companhia.

Mas a abrangência do problema é mundial.  E não está limitada a um problema de saúde.  Essa lógica se evidencia quando se percebe que, mesmo tendo uma evolução diferenciada, em termos de tempo, todos os países enfrentam os mesmos problemas sociais, econômicos e políticos em decorrência da crise de saúde.  Naturalmente, em cada país, de acordo com suas características, um item se mostrará de forma mais intensa e danosa do que outro.

Dessa forma, grandes líderes e organizações devem ser responsáveis com os habitantes do planeta e concentrar esforços de forma a buscar sinergia para propor soluções e enfrentar a crise, não apenas olhando para a situação específica, mas aprendendo e ensinando a partir de outras vivências, contribuindo e sendo ajudado por outras nações, dentro daquilo que cada uma possa oferecer.

Naturalmente, temos muitos exemplos negativos, que contrariam o que está sendo mencionado aqui, mas, enfim, estamos muito mais acostumados e sensibilizados a defender o planeta do que defender a vida humana no planeta.

Organismos internacionais são de sua importância nesse sentido. A Organização das Nações Unidas, de forma geral, a Organização Mundial de Saúde, o Banco Mundial e a Organização Mundial do Comércio, entre outras, devem atuar de forma articulada e sem privilegiar ou deixar de atender aos países mais necessitados em função da linha ideológica de seus governantes.

A lógica que deve prevalecer, neste momento, é o da preservação da vida, em todos os seus sentidos – saúde, alimentação, moradia, sociabilidade, etc.

Nesse sentido a articulação global a ser conduzida estaria próxima do fundamento da equidade, que compõe os princípios da Governança Corporativa.

Além disso, essa Governança Globalizada durante a crise, coordenada pelos organismos internacionais já mencionados, entre outros, deve ser capaz de comunicar, de ser transparente e sobretudo dialogar e promover o diálogo entre as partes, sobretudo em dois aspectos básicos:

1 –       Permitir a máxima troca de informações a respeito da pesquisa de soluções para o combate ao vírus, tanto em termos de remédios ou vacinas, como também em termos de práticas eficientes de prevenção de contágios e elevação do grau de imunidade do organismo; e

2 –       Apoio material (financeiro, encaminhamento de produtos médicos e de prevenção) aos países mais carentes ou mais afetados pela crise.

Estamos em um momento crítico e desafiador, e é justamente nesse tempo que os fundamentos da Governança ganham destaque na busca de uma solução que é única para todos os habitantes do Planeta.

Estamos mais ou menos acostumados a ver situações desse tipo em filmes de ficção.  Goodzilas, invasões de extraterrestres com intenções de dominação e liquidação, germes assassinos que destroem toda a população. Bem, agora é para valer.  Só que a solução não é mágica; não temos um Super-Homem, Hulk, Thor, Mulher-Maravilha ou coisa que o valha.  Temos que usar todos os nossos recursos para sairmos dessa crise – todos – e nesse sentido estou falando de elementos como a ciência, a tecnologia e o capital, mas também, e sobretudo, em cooperação, solidariedade, comunicação, empatia, assertividade e, porque não dizer, confiança e otimismo.