O presidente do Conselho Regional de Administração do Rio de Janeiro,

Site CRA-RJ: Qual a importância de dedicar um tempo de nossa rotina ao ócio, como forma de fomentar a criatividade?

Wagner Siqueira: A concentração na rotina expulsa o pensamento criativo e a possibilidade real de se considerar a inovação. Ser criativo é pensar coisas novas; ser inovador é transforma-las em realidade.

As atividades de rotina devem ser delegadas, canceladas ou extintas. A rotina é a repetição de decisão já previamente tomada. Por isso, devem ser transferidas. A essência das funções do executivo é pensar o novo, fazer diferente, fazer o que “não está no gibi”, aprimorar o que já é bem feito, descobrir novas alternativas.

O sucesso é doce e a nata do leite que está em cima é a que mais depressa azeda. Sempre se pode fazer com mais excelência e otimização o que é feito.

CRA-RJ: Seguir uma rotina, fazer sempre as mesmas coisas, na mesma hora, pode interferir na criatividade?

Wagner Siqueira: Interfere completamente. Espanta a capacidade do executivo dedicar-se ao novo. A rotina faz do executivo um cego que não consegue ver.

CRA-RJ: Como podemos aproveitar o tempo ocioso para produzir? Ou melhor, de que forma praticamos o ócio criativo?

Wagner Siqueira: É preciso não confundir ócio criativo com lassidão e descaso.

Cada vez mais o ser humano volta a ser um apêndice da máquina. Assistimos hoje ao servilismo cientifico-tecnológico em que a máquina reduz a capacidade do homem pensar e refletir. O ócio criativo deve ser utilizado para pensar a sua realidade no sentido de transformá-la.

CRA-RJ: Ler sempre sobre os mesmo assuntos – relacionados ao trabalho – e conversar com amigos e colegas sempre sobre esse mesmo tema, pode prejudicar a criatividade e a visão empreendedora do profissional?

Wagner Siqueira: Esse comportamento rotineiro nos induz a nos restringe ao círculo de ferro das mesmas relações e perspectivas. Terminamos como pessoas engajadas na mesma tribo, numa seita organizacional. Esse é o comportamento típico de reedição do lugar comum, de exclusão do novo e da mudança. A sociedade hoje cada vez mais tribalizada e a deificação do trabalho nos transformam em crentes de seitas de trabalho ou membros de tribos de relações.

A hegemonia do pensamento único, o totalitarismo das relações humanas e da imposição do politicamente correto nos faz perder a dimensão da diversidade e a capacidade de convivência com a diferença. Não há visão empreendedora e inovadora diante do totalitarismo das verdades estabelecidas.

CRA-RJ: Não fazer nada ajuda na geração de ideias inovadoras?

Wagner Siqueira: Nunca. Não fazer nada não ajuda nunca a nada. O ser humano que nada faz, caminha para a sua nulificação humana. É preciso eliminar o preconceito de que pensar não é trabalhar, que trabalham apenas os que realizam algo com as próprias mãos. Usar o ócio criativo pressupõe um brutal trabalho intelectual, às vezes bastante estafante.

CRA-RJ: As empresas brasileiras possuem uma gestão inovadora com relação à inovação e à criatividade? O que ainda há para se avançar nesse sentido?

Wagner Siqueira: As organizações empresariais brasileiras nada tem de criativas ou de inovadoras. Muito pelo contrário: são cópias e adaptações de padrões de desempenho de organizações estrangeiras. É uma falácia, um mito, a propagada de criatividade e inovação das organizações brasileiras. Há algumas poucas exceções, que apenas confirmam essa regra.

Bem, o número de patentes registradas pelo Brasil apresentam índices absolutamente ridículos em relação ao tamanho de nossa economia. O mesmo se pode dizer para as pesquisas aplicadas de nossos centros universitários. Os resultados são alarmantemente medíocres.

CRA-RJ: Como o senhor enxerga a contribuição da Internet como colaboradora do processo criativo, dentro das empresas?

Wagner Siqueira: A liderança da inovação e da criatividade sai dos centros hegemônicos de pensamento em instituições globalizadas e começa a caminhar, cada vez mais forte, para a periferia.