A greve dos caminhoneiros, que está paralisando o Brasil, traz à tona mais uma vez as deficiências na gestão pública de transportes no Brasil e a corrupção latente de alguns grupos comerciais, conforme diagnóstico do Adm. Wagner Siqueira, presidente do Conselho Federal de Administração e conselheiro federal pelo Rio de Janeiro. Além das más condições das estradas de rodagem em geral, os altos preços do combustível e impostos sobre a aquisição desses veículos – que culminaram na insurgência da categoria, a dependência exclusiva de um modal, no caso caminhões, é uma falha gravíssima dos planos de governo ao longo dos anos.
“Isto significa uma falha imperdoável de sucessivos governos brasileiros, principalmente a partir da Revolução Militar, com o ministro da Viação e Obras Públicas Juarez Távora, quando houve o esvaziamento do sistema ferroviário e também o sistema de transporte marítimo. A gente quase não tem mais o transporte de cabotagem, área na qual o Brasil sempre se destacou fazendo embarcações, por exemplo, mas que hoje existe muito pouco ou quase nada. Ficamos praticamente nas mãos das rodovias, o que mostra uma fragilidade e um custo altíssimo, que efetivamente faz com que nossa gestão pública receba todas as críticas possíveis. Isso prejudica enormemente o país, o custo Brasil, de todos os serviços e produtos que são absolutamente encarecidos por causa desses fatos”, disse Siqueira.
Para ele, o momento no Brasil é decisivo e exige um posicionamento urgente na busca por novas soluções, pois uma greve como essa afeta diversos setores da economia e da prestação de serviços básicos à população. Os erros das gestões passadas precisam ser revistos e sanados. Algumas pessoas poderiam alegar que não há recursos financeiros para uma transformação dessa, mas Siqueira relembra que ‘o sistema ferroviário brasileiro foi todo construído pela iniciativa privada’, sobretudo com financiamento inglês – no século XIX e metade do século XX.
O Administrador ainda lembra que os Estados Unidos começaram a conquista do Oeste Americano através das ferrovias, com transporte de cargas e de pessoas no século XIX, e que só na década de 1930, os norte-americanos passaram a fazer grandes aplicações de malha rodoviária, no Governo Roosevelt.
“A Europa também é toda fundamentada no transporte ferroviário e o Brasil começou muito bem, incentivando esse modal privado e depois estatizou, mas seguiu ainda em um bom caminho. A partir do regime militar, em busca de uma falsa racionalidade administrativa, gerencial e econômica, se desmobilizou-se uma série de ramais e de estradas de ferro porque ‘eram muito antieconômicas’, dizia o então ministro Juarez Távora, transferindo o transporte para o motor a explosão, a diesel, para os caminhões. Ou seja, a ingerência daquela época e o lobby das indústrias automobilísticas/caminhões mataram o sistema ferroviário e de cabotagem marítima e pluvial nos rios brasileiros”, explicou.
Costumes x instituições
Fora os desmandos da gestão pública no país, um outro fator que preocupa é a corrupção quase generalizada. Para o presidente do CFA, este é um mal que precisa ser combatido dia e noite, porém os maus costumes da população, em especial alguns empresários, acaba tornando a luta ineficiente.
“Em meio a uma crise dessas, muita gente quer ter vantagem e isso é corrupção. Quando um empresário aumenta, por exemplo, o preço da gasolina em função da dependência das pessoas, estamos cometendo um crime na economia popular. Outros passam a cobrar mais caro no hortifruti, por produtos que já foram comprados antes da greve, ou seja, compram por preço justo e venderão por valor abusivo, empresas aéreas que começam a cancelar voos menos lucrativos e assim por diante. Toda uma cadeia de corrupção se instala”, protestou o Adm. Wagner Siqueira, que ainda citou que durante o tsunami que ocorreu na Ásia, em 2004, os empresários não agiram como alguns fizeram no Brasil, pois lá os preços dos produtos/serviços permaneceram estáveis. Ele ainda chama a atenção para o fato de que o Estado está doente porque reflete uma sociedade igualmente doente. Seria necessária uma mudança cultural, ética e moral para que haja no Brasil uma sociedade com boas instituições e bons costumes, evitando tais desvios de conduta.
Há uma entrevista completa sobre esta questão na Rádio ADM RJ, acesse e confira!