O Adm. Wagner Siqueira, entidade signatária do Pacto Global da ONU, assinou a Carta Compromisso para a Rio+20, documento amplamente discutido entre as organizações e empresas durante os últimos 60 dias.
Ela teve como referências: a) os princípios do Pacto Global; b) o documento oficial em elaboração para a Rio+20 (Zero Draft: O Futuro que Queremos), assim como as contribuições do Global Compact Office para o referido documento.
A Carta busca trazer as contribuições que o setor privado se compromete para o Desenvolvimento Sustentável e a Erradicação da Pobreza, no atual contexto da Rio+20. Leia a íntegra do documento.
CONTRIBUIÇÃO EMPRESARIAL
PARA A PROMOÇÃO DA ECONOMIA VERDE E INCLUSIVA
As empresas e organizações signatárias deste documento estão comprometidas com o Desenvolvimento Sustentável.
Estamos acompanhando e participando das discussões relativas à Rio+20, a mais importante conferência multilateral focada na promoção do desenvolvimento sustentável desde a ECO-92.
Entendemos existir informação suficiente para poder-se afirmar que houve evolução no trato das questões sociais e ambientais de 1992 até hoje.
Por outro lado os números mostram que ainda são muitos os desafios para o alcance de um nível de desenvolvimento adequado para todos. Segundo relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Towards a Green Economy, 2011) há mais de 1,6 bilhões de pessoas sofrendo com falta de água e mais de 900 milhões desnutridos no mundo.
Há sinais claros de esgotamento de alguns recursos naturais, seja como fontes de energia ou materiais, seja como destino para nossos rejeitos. Entre eles os gases de efeito estufa, cujas conseqüências já se fazem sentir no clima do planeta. O Brasil também apresenta suas mazelas.
Segundo o IBGE (Indicadores de Desenvolvimento Sustentável, 2010), em 2008 havia mais de 15 milhões de famílias vivendo com menos de meio salário mínimo per capita por mês; mais de 40% das residências em zonas urbanas não tinham acesso a sistema de coleta de esgoto para tratamento e mais de 10% da nossa população com mais de 15 anos eram de analfabetos.
Por outro lado, por várias razões, o Brasil desponta como uma possível potência da economia verde e inclusiva. Mais de 48% da matriz energética brasileira eram de fonte renovável em 2009 (EPE / MME, 2010). O Brasil dispõe de mais de 20% do solo arável do planeta e felizmente conta com insolação e disponibilidade de água. Isso somado a uma cultura colaborativa e a uma classe empresarial cada vez mais engajada, consciente das suas responsabilidades e que quer atuar como protagonista, permite ao país ir muito mais além, ou seja, desenvolver-se de forma sustentável.
Com esse espírito positivo as empresas e organizações signatárias deste documento entendem que são parte da solução para a promoção da economia verde e inclusiva. Temos a convicção que o Brasil pode se tornar um país líder na promoção do desenvolvimento sustentável, um exemplo na promoção do equilíbrio entre o desenvolvimento econômico, social e ambiental. Entendemos que esta postura favorece o país, as empresas e as organizações aqui localizadas e ao mesmo tempo pode vir a influenciar as posturas de outros países e ainda contribuir para a solução dos problemas em escala global.
As empresas e organizações signatárias deste documento desejam ser exemplo. Queremos, através dos nossos negócios, ampliar fortemente nossa contribuição para a promoção do desenvolvimento sustentável integrando cada vez mais a sustentabilidade em nossas estratégias de negócio, ao dia-a-dia das nossas operações e dos nossos diversos relacionamentos.
Queremos ser reconhecidos pela sociedade por trazer soluções inovadoras que representem impactos reais na eficiência no uso dos recursos naturais (como água e energia), na redução da intensidade de emissões de carbono, na promoção dos direitos humanos e na inclusão social.
Dessa forma assumimos dez compromissos:
1. Buscar sempre o resultado econômico sustentável, aquele que considera a obtenção desses resultados associados à maximização dos benefícios ambientais e sociais e à minimização de possíveis impactos negativos;
2. Atuar nos nossos processos produtivos e nas nossas cadeias de valor (fornecedores e clientes) de forma a:
a.Continuar a melhorar a eficiência do uso de recursos ambientais (energia, materiais, solo, água etc.) e a reduzir qualquer forma de desperdício (resíduos, efluentes, gases de efeito estufa etc.);
b.Ampliar o uso de fontes de energia ou de matérias-primas renováveis;
c.Promover a geração de empregos dignos. Aqueles que consideram o atendimento aos diretos humanos e a capacidade das pessoas de se desenvolverem continuamente;
d.Promover o diálogo, a cooperação e o comprometimento visando ampliar a contribuição da cadeia para o desenvolvimento sustentável.
3.Reforçar nosso investimento em inovação e tecnologia de forma a introduzir novas soluções em processos, produtos e serviços que possibilitem a redução dos impactos decorrentes da produção, do uso e eventuais descartes associados aos produtos e serviços;
4.Fortalecer o papel do consumidor e a importâncias das suas escolhas de consumo considerando todo o ciclo de vida dos produtos e serviços;
5.Direcionar nossos investimentos sociais ao fortalecimento de três aspectos:
a.Inclusão social da camada mais pobre da população
b.Educação e desenvolvimento de competências para a sustentabilidade
c.Promoção da diversidade humana e cultural
6.Reforçar o cuidado com os nossos relacionamentos com as respectivas partes interessadas de forma a promover o comportamento ético e a coibir toda e qualquer forma de corrupção. Isso inclui os cuidados éticos no processo de comunicação das características dos nossos produtos e serviços;
7.Definir metas concretas para os aspectos mais relevantes da contribuição de cada um dos nossos negócios para o desenvolvimento sustentável e relatar publicamente a evolução do atendimento destes compromissos;
8.Promover a difusão do conhecimento, respeitando a propriedade intelectual, de melhores práticas empresariais focadas na ampliação da contribuição para o desenvolvimento econômico, social e ambiental;
9. Contribuir nas discussões sobre desenvolvimento sustentável, economia verde e inclusiva, economia de baixo carbono ou qualquer outro tema correlato nos fóruns empresariais, como sindicatos e associações, dos quais fazemos parte, especialmente no Comitê Brasileiro do Pacto Global; em universidades e escolas de negócios; junto à sociedade organizada e junto ao governo; de modo a influenciar e ser influenciado nessa interação;
10.Influenciar e apoiar as decisões e políticas do governo brasileiro que contribuam para o desenvolvimento sustentável.
Contudo, entendemos que o papel promotor e incentivador do governo é fundamental para o aumento da escala da nossa contribuição empresarial. Dessa forma chamamos a atenção para a importância do avanço em, no mínimo, cinco aspectos relacionados a políticas públicas:
A.Fortalecimento da educação em todos os níveis (primários, secundários, profissionalizantes, universitário e pós-graduação), dando destaque à difusão dos princípios e das práticas do desenvolvimento sustentável;
B.Favorecimento de investimentos em inovação, pesquisa e desenvolvimento de ciência e tecnologia, especialmente daqueles que podem introduzir melhorias radicais nos impactos ambientais e sociais;
C.Promoção da produção e do consumo mais sustentável, favorecendo aqueles que melhorem os impactos ambientais e sociais considerando todo o ciclo de vida dos produtos e serviços;
D.Apoio às empresas que assumam os riscos da introdução de novos produtos e serviços mais sustentáveis;
E.Fortalecimento da participação empresarial e da integração das diversas políticas nacionais e globais considerando o equilíbrio entre o desenvolvimento econômico, social e ambiental.
Assumindo esses dez compromissos, entendemos que estamos atuando de forma concreta para melhorar a qualidade de vida das pessoas no nosso planeta e para dar passos largos na busca da economia verde e inclusiva.
Por outro lado, o compromisso do governo em reforçar esses cinco aspectos das políticas públicas irá facilitar a contribuição empresarial. Isso irá alavancar fortemente os resultados.
Dessa forma, empresas, organizações, sociedade e governo estarão construindo juntos um novo cenário para os próximos 20 anos. Um cenário que propicie um desenvolvimento realmente sustentável.