*Adm. Wallace Vieira
Subitamente tudo parou. O mundo respirou. A pandemia mostrou que outra realidade é possível. Não uma, mas percebemos que há outra mais igualitária, fraternal, solidária e menos egoística, narcísica, onipotente e um futuro menos superficial e fútil, focado no essencial. Estamos, pois, aprendendo hoje que com ou sem Covid-19, o mundo não acabará, mesmo porque o coronavírus, por mais recém-chegado, faz parte dele.
O novo calendário, coronariano, sucedeu o gregoriano, a semana não tem mais dias, o mês não tem semanas, o ano apenas meses. Mudou as regras de relacionamento entre as pessoas, e entre estas, famílias e instituições; a nova forma de organização do trabalho, isolado socialmente, solitário, solidário. Aumentou o espírito de equipe, o sentimento de utilidade, pertencimento e de cidadania. Reavivou nas pessoas o amor ao próximo – mais empáticas, próximas e resilientes frente aos desafios em questão – e a recuperação do elo perdido: o humanismo. E levou, ademais, as pessoas a redescobrirem que podem viver mais para si mesmas e para família.
Deflui a conclusão pura e simples de que o planeta pode passar sem as criações do espírito humano, nós é que não podemos passar mais do que poucos minutos sem uma função.
E por fim, ficamos na privilegiada companhia do velho e imortal escritor Machado de Assis quando indaga, ainda sem resposta, no belo soneto extraído do livro “Poesias Completas”:
“Mudou o natal ou mudei eu”.
*Adm. Wallace Vieira é presidente do CRA-RJ (Abril/2020)